terça-feira, 13 de abril de 2010

Primatas Mal Treinados

Tive um excelente professor de matemática, após uma série de outros professores detestáveis. Mozart era o tipo de ser humano que dava ânimo a qualquer ambiente. Todos ficavam gratos de tê-lo por perto.
Mais ainda: conseguia ensinar matemática como quem demonstra o funcionamento de uma caixa d’água: qualquer estúpido aprendia com ele. Deus sabe como fui grato em tê-lo conhecido. Mozart conscientizou-me que matemática poderia ser divertida.
As aulas desse professor da rede pública eram super interessantes. Era uma oportunidade única que a maior parte dos alunos, mesmo os gazeteiros, faziam questão de participar. Eram aulas onde o lógico ficava tão escancarado na nossa frente, que a consciência não podia negá-lo. E fazíamos graça disso. A melhor parte era quando ele concluía qualquer raciocínio:
“- Ora, se A=B, e B é igual a zero, então A é igual a zero também” – e fazia uma cara específica que não consigo reproduzir no papel. Logo após concluía:
“- Então? Qualquer primata bem treinado consegue resolver isso!”
Todos nós achávamos graça. E como resultado, ninguém esquecia aquela explicação. De algum modo, aquele curioso brasileiro que se denominava judeu desfazia de nossas mentes a incorreta sensação de que números fossem desagradáveis – e que judeus fossem gente avarenta. Distribuía ali um conhecimento que poderia tê-lo elevado a rendimentos muito superiores ao de professor.
Mozart poderia ter sido qualquer coisa na vida. Sua intimidade com números sugeria que pudesse ter sido tanto bancário quanto banqueiro. Poderia ter sido uma revelação entre os soldados ou uma excelente aquisição para a intendência. Essa capacidade tão particular é referenciada em muitos escritos antigos, que não omitem o fato que pessoas com essas características seriam postas a serviço de reis. Faleceu pouco após o início do novo milênio, acredito. Meu maior remorso é não ter tido coragem de visitá-lo no hospital. Militares ignoram a dor alheia blindando-se contra emoções, concentrando-se nas ações. É uma preparação que muitas vezes traz reflexo também na vida civil.
Mas senti que não me faria bem conscientizar-me da perda de um bom mestre.
Sinto-me, ex-aluno gazeteiro de sempre, conscientemente grato ao que muitos chamam de Deus por ter incluído em meu caminho este e muitos outros professores.
Tive também professores militares. Eles se intitulavam “instrutores”, mas instrutor nada mais é que um professor que não aceita ponderação. Ele instrui – e ponto final. Vale o que diz o manual.
O professor é diferente. Ele envolve seus alunos com a curiosidade experimental. Estimula a pesquisa de campos pelo próprio aluno.
O instrutor não faz experiências, ele ensina o que já foi testado. O aluno apenas desenvolve sua capacidade de aplicação.
Meus instrutores e professores durante a vida consolidaram seus esforços em cada turma acadêmica das quais participei. Sugiro que o leitor considere o ponto de vista que desenvolvi durante a vida, desde que me conscientizei peça nesse grande cenário chamado presente.
Integro o conhecimento de vários mestres. A mente humana muitas vezes condiciona-se ao exercício, tal qual se faz com os músculos. Minha mente está adequada a manter-me inteirado e capaz.
Instruído.
Pronto para agir quando necessário. A questão é assegurar-se que não haverá erros por ação ou omissão. Isso se traduz, no dia a dia, sua ação no serviço de guarda, por exemplo. Instruído também significa bem informado.
Isso é fácil para um sargento comunicações.
O segundo passo é avaliar o campo e o ambiente. Dica de Sun Tzu. Recomendo esse livro para qualquer divórcio.
Identifique seu oponente mais perigoso. Aquele que pode deixá-lo completamente inerte e observe-o atentamente. Você não vai procurá-lo nas pessoas, sim em suas ações. Pode ser seu chefe, um familiar, qualquer um.
Verifique condições de sair de seu domínio. Avalie os riscos.
Obtenha o maior número de informações a respeito. E utilize toda sua capacidade para sair de seu raio de ação.
Depois detone o oponente. Faça-o nunca mais desejar encontrá-lo pela frente. Isso vai facilitar sua vida – e a sobrevivência do oponente também.
Porque se você não sucumbir ao seu pior oponente, não sucumbirá diante mais ninguém. Basta lembrar que são primatas. Os primatas mais inteligentes, talvez.
Mas de um modo geral, primatas mal treinados.

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