domingo, 25 de abril de 2010

FF DIFRAL

Senhores!
Não somos somente o que nossas identidades dizem. Somos muito mais. Muitas vezes aprecio a idéia de compartilhar meu aprendizado quanto aos fatos com todas as pessoas que me cercam, sem discriminação de quem sejam, de modo a harmonizar e ensinar a harmonizar nossas relações. Isso pode incluir subordinados, pares, superiores hierárquicos e juízes. Tanto civis quanto militares.
Inclui indiretamente interesses de “clientes”. Usuários de transporte aéreo e contribuintes do Imposto de Renda. Definitivamente, a gama de pessoas atendidas pelo serviço militar da aeronáutica é extensível a todos os brasileiros. Mesmo brasileiros que nunca embarcaram em aviões têm interesse que os que o façam não caiam sobre suas casas. Ou suas cabeças.
Muitas vezes busco evitar até mesmo discriminar pessoas em níveis sociais acima do meu. O “rico” também gosta de ser incluído nas conversas. Só não gosta de perder tempo. Por isso o ar natural de empáfia de quem ouve discussões triviais.
Eles também merecem saber o que torna suas vidas perigosas. O que os fragiliza ante a capacidade de pessoas confusas que se reúnem em maior número para discutir situações. Ricos e poderosos temem suas próprias bastilhas pessoais. Chefes no serviço público ou empregadores no exercício civil vivem receosos de “levantes” em qualquer nível. Afeta seu status.
Levantes muitas vezes atrapalham o desenvolver da raça humana. Noutras determina a mensuração e ajuste do “fiel da balança”, na forma de rever valores. Trata-se de um dispositivo natural de qualquer empreendimento humano, dado a necessidade de sobrevivência. O instinto coletivo nos leva a associar às pessoas mais capazes que identificamos, dentre as que passam a compor nosso círculo social.
O levante do Forte Copacabana foi um lance muito curioso. Passados os valores de época, tratou-se de uma insensatez que de certo modo deu certo.
Alguns malucos se apegaram aos seus equipamentos e posicionaram-se contra a depreciação de seus dispositivos de comando. Deu no que deu.
Formaram a Força Aérea. Com a criação do Ministério da Aeronáutica, homens da defesa terrestre tomaram controle de um espaço muito maior que a superfície terrestre de seu país. Responsabilizaram-se por um volume espacial imenso a que chamaram espaço aéreo brasileiro. Isso foi uma das mais impressionantes demonstrações de poder já manifestada por qualquer grupo ou indivíduo em nosso solo.
Penso em Eduardo Gomes. No que deverá ter pensado, de modo a reintegrar o Forte de Copacabana à submissão de seus serviços, incorporando-a ao espaço aéreo de sua autoridade. Eduardo Gomes venceu o Exército Brasileiro criando seu próprio exército. Um enorme exército de pára-quedistas azuis.
Seu exército desenvolveu seu sonho muito além do que ele pudesse imaginar. De defender passaram também a ordenar o tráfego e policiar a presença indesejável em nossos céus. Tarefa complexa que incluiu a dedicação de gerações, voluntária ou compulsoriamente.
Fomos longe. Operadores de radar, profissionais em telefonia, mecânicos automotivos e de aeronaves, agentes de administração e especialistas em obras – o incontável número de integrantes desse exército que voa faz com que sejamos o que desejemos ser. Um grande grupo.
Compartilho com muitos o desejo de uma Força Aérea invencível. Uma gente tão criativa que constitua dissuasão natural a qualquer oponente além fronteiras. Um grupo forte, unido.
Coisa que somente homens com muita moral, impenetrável a abalos, podem fazer sob a aprovação dos ensinamentos de seu mestre. Por que não o exemplo do Tenente Eduardo Gomes? Melhoremos a cada dia.
Evidentemente aprendendo também com os erros de estratégia alheios, seria de supor qualquer espécie de manifestação, mesmo um acabrunhado resmungo. Conhecendo o desfecho desagradável da Revolta Tenentista, com seus mortos e feridos, é importante manter em mente o ensinamento do mestre Ghandi, manifestando-se de modo pacífico e solicitando qualquer ordem duvidosa de superiores hierárquicos por escrito. Isso descaracteriza qualquer idéia de revolta ou motim e restringe as relações de trabalho à cadeia de comando. Vale lembrar que as relações sempre se resumem a um superior hierárquico funcional, no serviço militar. Mesmo as relações de comando são apreciáveis pelo judiciário, civil e militar.
Isso acontece porque o mecanismo da revolta é a existência de armas. O mecanismo do motim envolve subordinação direta. Não acatar um mais antigo não significa necessariamente desacatar um superior.
A não ser que seja de sua cadeia de comando.
Esse é o dispositivo que impede que um oficial general do quadro médico determine a um operador radar que suba ou desça uma aeronave controlada. Quando o controlador diz “não” a um brigadeiro intendente não constitui insubordinação. Quando vários controladores o fazem não significa motim.
Quando o comandante da unidade recebe um não, sua moral está sendo contestada. Nenhum profissional o faz sem apreciar os efeitos de suas decisões. O especialista somente admite sem resmungar quando percebe ética na determinação.
Sem ética, já era a moral. Revelasse o senso comum que fosse ético submeter pessoas à pressão de empresas, acionistas, usuários do transporte aéreo, autoridades e demais segmentos sobre o capital humano envolvido na segurança aérea não haveria motim, revolta ou qualquer manifestação contrária à normalização de serviços tão sensíveis à vida humana, o serviço dos órgãos de controle do país teria continuado normalmente, sem interrupção.
Se durante a crise aérea fosse recebida pelos centros de controle qualquer parte administrativa determinando a continuação das atividades, seria realmente um motim. Isso no caso de ser deliberadamente negado uma ordem escrita do comandante da unidade ou seus chefes. Isso não aconteceu.
É possível até dar o bizu do texto, como qualquer escrevente o faria: ”Determino-vos retornar à atividade militar de controle aos seguintes militares:...”
Se os subordinados envolvidos na questão não solicitaram tal parte, não significa que seus superiores não saibam que devam fazê-lo. Creio que não tenha sido feito.
Ao invés disso, abandonaram sua própria razão, incluindo civis num assunto onde não há a menor razão para deliberação sobre suas próprias decisões. Pediram ajuda a universitários.
Tal despreparo não é justificável por pessoas que deveriam saber dominar suas emoções, agindo de modo a positivar o bem comum permeado mesmo em nossos severos regulamentos e estritos estatutos. O desconhecimento desse teor é inescusável por qualquer autoridade. Principalmente judicial e militar.
Mesmo um soldado sabe disso.
Então, se reconhece inconsistências de um sistema que inclui antigos e modernos, superiores e subordinados, dentre os quais ambos os grupos pareciam despreparados para um evento que já era senso comum. Os acontecimentos que se sucederam ao acidente do Gol 1907 não angariaram o apoio do efetivo.
O capital humano não é a favor do afastamento de qualquer profissional de suas posições operacionais. Também não é a favor da descontinuidade dos serviços. O efetivo de proteção ao vôo observa com alguma apreensão a falta de tato com que foi relegada à condição passiva de observador.
Apetrechos no uniforme presumem, mas não determinam a moral de quem os ostente. Há pessoas que se apropriam da autoridade de uniformes e insígnias que sequer podem utilizar. Imiscuem-se como civis em assuntos privativamente militares, de gente “ativa”.
Moral tem quem sabe o que expressa e abraça a liberdade de fazê-lo mesmo que custe a liberdade – e é quase impossível prendê-los por sua conduta irrepreensível. Não há morte ou liberdade que impeçam qualquer brasileiro sensato de exigir o que há de melhor para seu país e ainda há muito a ser feito. O primeiro passo é desfazer a babilônia de relações e estabelecer comunicação proativa. O segundo é agregar esforços. O terceiro é valorizar cada componente desse seleto grupo autodenominado Força Aérea. A partir daí nada mais detém que aperfeiçoemos nossa segurança em amplo sentido. Importante lembrar aos senhores que ninguém está aqui à toa, ninguém ocupa espaço nesse planeta sem que haja qualquer atividade na qual possa contribuir. No serviço militar sempre há uma ou outra faxina a ser feita em todas as salas.
Inclusive de superiores.

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