
É corrente que para cada poder reconhecido, o ser humano proporciona leis que o regulem. Talvez se trate do senso comum, para o qual pouco importe o poder, se não há controle.
Seara e linguajar muito próprio e íntimo a aeronavegantes. Num esforço de subida, mesmo manete à frente, inclinação excessiva resulta em stol. Esse balance entre empuxo e atitude da aeronave expressa a característica de vôo de cada piloto. Em tempos de boa remessa de material, pilotos comerciais deixam de contabilizar seus pousos duros, resultando em desgaste notório. Nos dias de penumbra financeira das empresas, as listas de “comedores de pneu” correm frouxas nas estatísticas da companhia. O RH entra em ação, renovação de quadro.
Acontece em qualquer empresa, bobagem negá-lo no Estado brasileiro. Antes se tratasse de exagero literário! O valor contributivo de cada posição de trabalho, na estrutura do Estado, tem significados diferentes entre os próprios membros do governo. Somos, em divina essência, uma grande mistura de culturas muito próprias que formam a mentalidade administrativa do brasileiro.
Divertido pensar como aprendi nos livros de OSPB. Aprende-se, por exemplo, que o Serviço Militar Obrigatório não é uma obrigação, mas um privilégio. O privilégio de defender pessoalmente o território de seu próprio povo. Pensassem todos de modo único – integrado – teríamos uma realidade. Muitas culturas pagariam pelo benefício de operar pessoalmente os caças de sua nação. Isso materializa o desejo do voluntariado. Voar de graça.
Observar a forma como cada país defende seus cidadãos das mazelas locais costuma ser útil. Conhecer o espírito de corpo e seu efeito agregador nos permite lançar realização à sóbria e civilizada tranqüilidade, o espírito combatente permanece. Quase sempre latente. Medir o valor do esforço ou dedicação de cada integrante do Estado no interesse de atender sua sociedade muitas vezes é inconclusivo. Mesmo opiniões profissionais costumam mudar, de tempos em tempos. É a adaptação natural à situação, em que o novo costume predomina sobre o velho. Crê-se que a idéia se contraponha daí ao conceito de antiguidade. Na relação castrense há um bloqueio natural de comunicação. Chamo essa característica “comunicação de trânsito condicionado”.
Ato que se espera de qualquer indivíduo é o esforço mínimo em transpor as limitações legais e ter a ação imediata desejável de qualquer sentinela.
Qualquer voluntário, basta iniciativa. Essa idéia não contempla entretanto o processo orgânico corriqueiro pouco se pode fazer. Uma “Parte administrativa” de meu rank dificilmente avançaria ao conhecimento de outros grandes interessados: as cadeias de comando superiores. O avanço da informação fica condicionada à conveniência de sua cadeia de comando, a saber, qualquer superior hierárquico.
Se o superior não participar do mesmo ponto de vista, acabou-se a informação e o presente artigo.
Mas se a comunicação for desenvolvida de modo sistêmico, grandes resultados no objetivo comum são geralmente obtidos, aumentando a segurança de unidades contíguas à população civil. Na prática, sem a devida organização não enseja qualquer esforço para tal. Veredas legais desestimulam a iniciativa. Há assuntos prioritários, em diversos setores. Substituição de armamentos defasados, treinamento contínuo e extensivo à camada baixa da população, alimentação dos batalhões... uma infinidade de objetos burocráticos repetitivos.
Dificuldades que são transpostas com algum conhecimento pessoal. É onde entra a arte de cada um, o modo de lidar com situações, quer sejam administrativas ou operacionais, de modo a resolvê-las com maior presteza possível.
Uma carência detectável na cultura do obscurantismo do silêncio das comunicações é por conseqüência a virtual falência financeira à qual se submete o efetivo. A maior parte dos militares dedicados a atender setores estratégicos de benefícios indiretos para o país encontra-se em situação econômica excessivamente limitada. Não acumulam quaisquer rendimentos evidenciados, o que em caso de grandes reviravoltas do mercado significam a deterioração da qualidade de vida de sua família – e uma preocupação com reflexos operacionais óbvios.
Na aviação muito se observa e aprende. Um dos quesitos mais importantes nesse empreendimento moderno é a conectividade de soluções. A máxima de buscar auxílio externo, de Sun Tzu incentivou que fosse dividida a ação técnica sobre equipamentos de uso militar. O resultado foi a inversão de um processo: ao invés de adaptarmos tecnologias às enredadas funções militares, tentou-se adaptar décadas de legislação em programas.
Seja honesto consigo mesmo: é possível conceber qualquer tipo de mobilização com
tropas, sem comunicação de comando? Estará a rede de comunicação criptográfica preparada para o volume de comunicações decorrente dos estados de mobilização?
O ponto que diferencia um empreendimento sólido é real capacidade de assumir situações inesperadas. Isso advém de um prévio preparo.
O histórico de paz do brasileiro permite alguns luxos e desperdícios administrativos que teriam sérias conseqüências em caso de mobilização emergencial. Essa é uma constatação que não dá senso de crítica ou censura, trata-se de um fato com o qual o brasileiro médio, conforme amadurecendo seu conhecimento, preocupa-se. Um dos desperdícios aos quais me acostumei foi a contínua perda de capital intelectual em nossas fileiras.
Fazendo-me valer da lei 6.880, de 09 de dezembro de 1980 em seu artigo 37, poderia complementar a atividade, na instrução ou administração. Bastava levar o conhecimento histórico dos dispositivos administrativos aos quais era íntimo quando ainda era soldado. Havendo trabalhado no expediente durante alguns anos, tornei-me afeto a atos administrativos, compreendendo de forma natural sua formação e reflexos legais. Canseira.
Favorece-me até hoje ter participado de três cursos de formação militar e um de especialização de soldados, onde somam quatro cursos avaliados de regulamentos. Inclusive disciplinar e penal. Talvez por isso, tenha auferido êxito em concluir dezesseis anos de serviço com poucas detenções.
Na verdade, causa-me pouca comoção receber partes disciplinares. Acho curioso que na falta de enquadramento consistente, já tenha recebido punições questionáveis por ter trabalhado mal. Uma das mais marcantes foi alusiva ao plano de vôo de uma aeronave militar. A equipe inteira foi punida pelo serviço onde somente um operador poderia tê-lo errado!
Mas o termo por ter trabalhado mal influencia até hoje o entendimento de minhas alterações. Motivo pelo qual não há o menor esforço pessoal no sentido de ser transferido para qualquer outra Unidade. É característica muito comum ser mais eficiente na área onde se tem natural motivação. “Necessidade faz o sapo pular” diz o ditado que, decerto, não é vão.
Tenho necessidade quase patológica da sensação de catarse. Aquela sensação de alívio que se tem a cada etapa vencida. O êxito em qualquer atividade é o verdadeiro tonificante para o esforço realizado. Catarse é a satisfação da realização. Algo como: você se priva da liberdade para trabalhar, e o trabalho lhe advém a catarse de recursos financeiros. Era para ser só isso e suficiente. O ser humano busca mais.
É diferente da adrenalina. A adrenalina sugere um estado de excitação perceptiva. Quem se habitua a viver sob os efeitos sensoriais do MotoCross, por exemplo, tem necessidade de vivenciar situações mais arriscadas. Traz-me catarse poder depurar eventualmente minhas próprias experiências, buscando o aprendizado de qualquer situação, positiva e negativa. Minha experiência com o sabre alado conduziu-me exatamente para a seção onde comecei minha especialização.
A percepção de riqueza ou pobreza, valor ou irrelevância de cada situação varia para cada um. Os acontecimentos de um dia, um ano, ou uma vida inteira pode estar mais vividamente na consciência para alguma pessoas, e outras não. Consciência é o que discerne o indivíduo responsável, o desejável para desempenhar papéis ou atividades em que devam ser realmente capazes de agir. Pode-se afirmar, desse modo, que o que se espera de um bombeiro é a máxima eficiência humana em combater incêndios. É o que presume a vasta documentação que rege seu funcionamento. Quanto ao policial, o que se espera é que policiem a vizinhança. Não que tornem um inferno a vida de quem trabalha com atividades mais complexas que a de multar apressadinhos. No universo dos apressados, há muita gente realmente ocupada, mesmo que não pareça.
Gente como o Otto. Otto era um cara quietão, do tipo que entra mudo e sai calado. Mas era um cara que prestava atenção e não dava trabalho. Era terceiro sargento e eu, soldado, imaginava a moral, traduzida em conhecimento profissional, do futuro Suboficial Otto.
Enquanto terminava de protocolar os radiogramas, percrutava impressões. Por ser quieto e consciente, provavelmente percebia o modo imprudente como viviam seus convivas. Havia os que vibravam com quaisquer bobagens que instalássemos. Havia também os que nunca estavam satisfeitos. Otto parecia não pertencer a um grupo, nem a outro. Era, decerto, um dos mais discretos militares que conheci.
Hoje, estou confuso se ele trabalhava na V-26, ou não. Lembro-me dele trabalhando para o Centro Operacional Integrado. Defesa Aérea. Foi um dos últimos voluntários que apresentavam algum grau de determinação em servir característico dos soldados.
Eu via aquelas três divisas e sabia exatamente o grau de pressão a que era submetido. Quando chegou da escola de formação era seco como um soldado alemão. Conduta interessante.
E adquiriu com o tempo a tranquilidade de quem é capaz. Confiava de tal forma na capacidade de seus colegas que não se eximia de fazer uso de seu próprio trabalho. Morreu no objeto de seu empreendimento, no vôo 1907 da Gol.